sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Tesourinhos Fascinantes - As Cassetes

Quem é que nunca gravou uma selecção de temas daqueles bem pirosos e peganhentos para conquistar uma miúda?

Possivelmente as leitoras deste blog que não têm tendências lésbicas.

Havia cassetes de ferro (eram duras para caramba), de crómio, de metal, ou até as que abafavam o ruído, o que foi importante para quem como eu foi ao ponto de usar um gravador de cassetes para gravar músicas da televisão, captando o toque da campainha, os carros a passar, os puns da mãe e até a buzina do padeiro.

Mas era da rádio que gravávamos a maior parte das músicas que compunham as nossas cassetes que eram depois catalogadas com requinte.

Os mais organizadinhos, como eu, numeravam a lombada e até se atreviam a desenhar as capas.

A que desenhei para o "Thriller" de Michael Jackson estava ao nível daquilo que o meu sobrinho fazia na Escola Primária.

Mas eram os "Especiais Anos 80" que eu adorava gravar e etiquetar.
Ainda estão lá para casa, numa improvisada prateleira no topo do armário onde estão guardadas algumas revistas de Walt Disney e os discos de vinil.

Na era dos downloads e música portátil em i-pods catitas, estou um passo atrás, usando e abusando dos cd´s que mataram as cassetes.

E não era muito complicado matar uma cassete.

Bastava agarrar-lhe na tripa magnética e esventrá-la com requintes de malvadez.
Era um óptimo momento anti-stress desde que a cassete não fosse nossa, claro.

O pior era quando as caixinhas de música cometiam elas próprias suicídio nas cabeças de leitura e gravação.
Cheguei canções do tipo dos Communards convencidíssimo que era o Rod Stewart.

E quando, por fim, o aparelho arrancava a fita, ficávamos passados e arrancávamos os cabelos, e é por por isso que restam poucos.
Sete.

Havia quem preferisse mandar as fitas para a rua, proporcionando belos efeitos de Carnaval tóxico, graças às serpentinas magnéticas que se viam aqui e ali.

Sendo um homem da rádio, as cassetes tornaram-se também instrumentos de trabalho, na altura em que se gravavam rm's com as declarações dos entrevistados.
Os rm's eram os "registos magnéticos, que nos tempos da Rádio Voz de Setúbal eram gravados nas cassetes promocionais das Selecções do Reader's Digest onde António Sala anunciava "Sucessos Românticos".

O dedo mindinho aqui do JP, mais pequeno que uma pevide de abóbora, era o suficiente para alinhar a fita e pô-la a tocar.

Como é que se fazia?
Colocava-se o dedo mindinho na bobine que tinha menos fita e rodava-se aquela pequena traquitana até deixar o início da fita a meio da superfície de leitura.

Foram os tempos aúreos do dedo mindinho.

Hoje dominam o dedo do meio - esticado para gente que nos azucrina a paciência nas estradas - e o polegar, o preferido das gerações mais jovens para jogar, enviar sms's ou pedir boleia.

Havia também, claro, as cassetes vídeo, esses enormes matrafolhos parecidos com tijolos, mas sobre essas velharias escreverei num outro dia.

Com o duplo deck da aparelhagem knockout e o auto-rádio do carro, idem, aliás todo o carro idem, resta-me olhar para as velhas cassetes enfileiradas como se fossem guerreiros de terracota de outras batalhas.

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