sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O Pequeno Johnny - Playground, Velha Infância

Nos últimos anos da década de 70, este vosso escriba já evidenciava alguma facilidade em criar mundos de fantasia, sendo que os laboratórios ao ar livre, sobretudo feitos de argila, era o que restava de espaços baldios no Pinhal Novo.

No Inverno, usava a fachada livre do prédio onde morava a minha avó materna, como uma das paredes de quartéis de soldadinhos.

Grutas e mais grutas feitas em barro, dezenas de esconderijos secretos onde os bons combatiam os maus, alcandorados em cúpulas de barro ou caves bafientas.
Horas e horas de recreio a que, às vezes, se juntavam os primeiros amigos de infância.

Recordo pelo menos três.

O Zé Manel, também conhecido como Zé Reguila, que apareceu do nada um dia, pedindo para brincar comigo, perto do Carocha azul abandonado; o Zé Ameixa que tinha um café na volta do amado quarteirão de sempre; e claro, o Nelson, que vivia "naquela grande casa ali", como eu costumava dizer.

Os "Zés" ainda hoje são cumprimentados quando se cruzam comigo.
Estão mais velhos mas em bom estado de conservação, melhores do que eu estou; no fundo sou uma velha carcaça, uma sombra do sensual jovem que fui...

O Nelson é o velho amigo de sempre.
Com ele, percorria metros e metros de manilhas - aqueles canos de esgoto enterrados por toda a parte - como se tivéssemos sido toupeiras numa outra vida.

Eu era pequeno e frágil, mas nunca tive medo de nada.
Entrava por ali adentro, abraçando a escuridão, minúsculas mãos usadas como radar de morcego-humano, tacteando cimento, saindo finalmente mais à frente, atrás, ao lado, onde quer que aqueles caminhos subterrâneos fossem dar.

Penso que havia horas, ao fim da tarde, depois das aulas, em que a maior parte dos miúdos daquela zona, estava enfiada debaixo de terra, como os saudosos boecos Fraggles, sem outra obrigação que não fosse correr, tropeçar, levantar e rir, rir sempre.

Conhecemos de perto - e literalmente de forma profunda - a renovação da canalização pública pinhalnovense.

Os túneis eram escuros, mas os nossos olhos, luminosos, na mais pura inocência, iluminavam o caminho, e o sol tanto brilhava lá em baixo, como em cima, cá fora.

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