terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O Pequeno Johnny - Quando Eu Era Princesinha

 
As memórias que recupero hoje foram tabu até há bem pouco tempo.
Como quase todos os homens deste mundo tive a minha fase travesti.

Aconteceu uma única vez por volta dos meus três aninhos, isto se se considerar irrelevante dois anos na adolescência em que ia para a escola com a lingerie da minha mãe.

Quanto ao momento retratado acima, aconteceu por volta de 1973, 1974.
Vestido com uma espécie de... unn... vestidinho curto, uns sapatinhos ortopédicos que mais parecem umas sabrinas, meias branquinhas puxadas bem para cima, como se fossem collants e com um cabelinho comprido e sedoso, eis o pequeno Johnny transformado em princesinha da classe média!

Esta linda menina de pernoca bem aberta na varanda do seu 3º direito, e que por pouco não seguia o exemplo do filho do Nené, hoje Filipa Gonçalves, contentava-se a brincar com... molas de roupa!!

E diz a lenda que permanecia assim, entretido com tão pouco, horas a fio, podendo até os meus pais ausentarem-se para um fim de semana em Benidorm que, quando viessem, lá estaria eu na mesmíssima posição, embora sub-nutrido, e possivelmente mijado e cagado pelas perninhas abaixo...

Há que dizer aos nojentos pedófilos que têm estado a ler isto de braguilha desabotoada, que o menino/princesinha da foto cresceu, é um heterosexual de 41 anos e só frequenta o Parque Eduardo
VII por alturas da Feira do Livro e mesmo assim, raras vezes.
Mas chegade falar de gajas boas, isto é, de mim.

Que tal um bocadinho de História de Varandas Lusitanas dos finais do Século XX? 
Não?
Está bem.

VARANDA CARDOSO, UMA INSTITUIÇÃO

A varanda ali acima tornou-se, literalmente, uma homenagem aos Jardins Suspensos da Babilónia, à Natividade Cristã e à Pátria Portuguesa, consoante a época do ano.

No Natal, "papai e mamãe" esmeram-se em enfeites natalindos, uma profusão de luzinhas que acendem e apaguem para lembrar a todos que a família Cardoso celebra o Natal como ninguém mas que, no fundo,
gostariam sim de gerir uma casa de alterne.

Em tempo de campeonatos da Europa e do Mundo em futebol, a varanda é ornamentada com uma mega-bandeira portuguesa - culpa dos tempos do Scolari - o que tem confundido muitos turistas que julgam que é ali o Palácio de Belém.

Ainda ontem recebi duas dezenas de japoneses e chineses de máquina fotográfica que, em vão, procuraram o Plesidente Cavaco debaixo da mesa da cozinha, atrás do móvel da sala e até dentro da sanita.
Aproveitei para puxar o autoclismo, porque sempre são alguns a menos neste mundo, caso as enchentes e os terramotos não cumpram o seu papel.

Hoje em dia, naquela varanda - pasme-se - também se plantam morangos, prova de que os dias de hoje apelam ao regresso à terra.
Mas no início dos anos 70, a varanda era tão kitsch, se nos esquecermos, por um momento, daquela boneca que ali deixaram plantada.
Foram os dias em que eu era princesinha.

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