sexta-feira, 29 de julho de 2011

O Pequeno Johnny - O Malandrim

Poderia ter sido um bom actor, eu.
Não como um Isaac Alfaiate porque não tenho os joelhos tão bonitos, mas ao nível de um José Wallenstein, mais pela fuça do que pelas façanhas artísticas.

Todos já mentimos uma vez e todos fizemos asneiras em criança.
Mais do que uma vez.

A história que se segue aconteceu algures entre 1975 e 1980, na casa da minha saudosa avó Catarina.
Mais propriamente na cozinha.

Vovózita tinha ido às compras à mercearia do sr. Alberto, ainda hoje com a mercearia de pé, resistindo a supers, hipers e mega-mercados.
Trouxe pelo menos um saco cheio de coisas boas, daquelas a que um puto guloso não resiste, espreita e acaba por partir um ovo de uma caixa de meia dúzia.

Receoso de sentir o calor de umas palmadas bem dadas no rabo, tive uma ideia genial.
Fazendo fé em alguma taralhoquice da minha avó, engendrei uma realidade alternativa em que ela se tinha esquecido de comprar ovos.

Mas para isso era necessário desaparecer com os cinco ovos inteiros e um partido.

Então - notem no engenho da criança mais estúpida do que uma porta - agarrei na caixa de ovos e atirei-a pela janela.
Um voo do 1º andar para o quintal da dona Olívia, a senhoria.

A existência de uma bela gemada entre as plantas de quintal não passou despercebida e lá veio o inevitável castigo para o malandrim.

Cerca de 10 anos mais tarde, vinha carregado com compras da cooperativa de consumo que entretanto faliu, quando vi a minha prima Zezinha uns metros à frente e, o que é que resolve inventar a esquizofrenia desta mente?

Um faz de conta que estou a esconder algo muito feio atrás de uma roseira bonita.
Assim que, ao longe, a minha prima pareceu intrigada, fiz uma expressão de pânico, desviei-me do seu caminho, e acelerei o passo.

Não sei porque o fiz mas, como seria óbvio, a história chegou rapidamente aos meus pais e eu sem conseguir explicar o que se tinha passado, ou melhor, que não se tinha passado nada.

Ainda hoje não sei porque é que, quando não fazia asneiras, simulava que fazia asneiras.
Perdeu-se um actor, ganhou-se um pateta.

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