quarta-feira, 17 de março de 2010

O Mapa dos Tesouros Perdidos


O que se conta a seguir poderia estar na rubrica "Geração Tio Patinhas", mas as pilhas de livros Disney debaixo das camas dos meus tios, tantos anos depois, representam, sem dúvida, mais um belo "Flash Revival".

É verdade que o meu espólio de revistas de Walt Disney crescia de dia para dia, mas fazia-se a conta gotas, apelando à bondade e à carteira dos meus pais; as revistas do Tio Patinhas sempre foram caras e a crise não é só desgraça dos nossos dias.
Nesse sentido, só de quando em vez "pingava" um novo exemplar defronte dos meus olhos.

Bem diferente era o autêntico colírio para os olhos que consistia em dar de caras com uma colecção consolidada, escondida, proibida.

A mais fantástica era sem dúvida a do meu tio Beto.
Ficava de baixo da cama dele, pouco mais do que um colchão, a meio de um mundo personalizado ao seu gosto pessoal, posters e luzes encantatórias, pujante adolescência.

Debaixo da cama, um muesli de revistas eróticas e Disney, visão sublime, tentação avassaladora de levar para casa 20 daquelas revistas debaixo do casaco, sem qualquer sentimento de culpa.

No quarto do meu tio Afonso, algo não muito diferente.
Também debaixo da cama, "Playboys" conviviam com "Disneys Especiais", ou seja, lado a lado, o supra-sumo das revistas eróticas e de Walt Disney.

O primo "Carocha" também construíu a sua colecção-tentação, que ficou, em tempos, numa prateleira da sua mesa de cabeceira.
O Nelson chegou a ter o seu monte de revistas na marquise.
O Samuel guardava o seu tesouro Disney, algures numa sala de uma casa cheia de divisões.

Apeteceu-me roubar todos eles, independentemente do facto de serem familiares, amigos ou gente que conhecia de vista.

Ainda hoje, se me fosse permitido voltar ao passado, roubaria qualquer um deles, sem qualquer tipo de remorso, mas as colecções dos meus tios, os tesouros escondidos debaixo da cama, é que eram para mim, o nirvana de quem sonhva com Mickeys e Donalds.
E já agora, gajas com mamas que pareciam balões da Feira de Maio.

Hoje, infância há muito perdida, adolescência esfumada, idade adulta quase a meio, tenho a minha prória colecção de "Playboys" e "Tio Patinhas", que se fosse econtrada pelo João Paulo dos anos 80, seria babada e invejada de alto a baixo.

Acontece que o meu sobrinho, filho do Século XXI, dos plasmas e computadores, não lhe liga nenhuma.
Pelo menos não serei roubado pelo petiz.

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